REESTRUTURAÇÂO: Hering, na boca do povo!
Mudança de sede, enchente, venda de marca, atrasos nas entregas, boatos de falência. Em meio a todos esses problemas, a Hering se recupera de grandes mudanças em sua estrutura física e no mercado Por Itamar Dantas
As gaitas sempre foram produtos indispensáveis no estabelecimento de qualquer varejista de instrumentos musicais. Compradas à vista, em dinheiro vivo na maior parte das vezes, os modelos mais simples têm alta rotatividade e representam faturamento imediato ao lojista.
A Hering, nesse ramo, foi pioneira no Brasil. Criada em 1923, por Alfred Hering, durante algumas décadas a empresa dominou a comercialização do produto no País. Ainda mais depois que, em 1966, a empresa foi adquirida pela Hohner, uma gigante do mercado internacional, que trouxe toda a sua expertise à fabricante brasileira. Vendida em 1979, em 1996 passou às mãos de sua atual gestão, com Alberto Bertolazzi.
Nos últimos anos, porém, a empresa sofreu alguns reveses nos negócios. A mudança de sede, aliada a uma enchente na cidade de Blumenau, SC, no final de 2010, fizeram com que a Hering atrasasse entregas de seus produtos, alimentando um boato de falência no mercado nacional de instrumentos musicais. “Algumas fontes mal-intencionadas começaram a espalhar notícias sobre problemas financeiros na empresa. Mas, como dizem, mentira tem pernas curtas. Hoje a situação está normalizada e, a despeito da nova enchente deste ano, mais forte ainda que a de 2010, estamos produzindo e entregando dentro dos prazos necessários para atender o mercado.”
Já recuperada, a empresa define as estratégias para 2012. Bertolazzi afirma que este ano vai investir pesado em ferramentas de marketing e institucionais. “A Hering se tornará mais ativa nas redes sociais e dará andamento ao seu projeto cultural e educacional pelo Instituto Cultural Hering Harmônicas”, ressalta o gestor.
O buraco deixado pela Bends
No mês de junho de 2011, a Bends Harmônicas saiu do mercado nacional de gaitas. Mediante esse fato, a Hohner prometeu entrar com mais força no mercado pela sua distribuidora, a ProShows. De outro lado, a Suzuki declarou que também estaria mais presente, intensificando suas ações de marketing pelo Brasil, que agora se divide, basicamente, entre essas empresas e a Hering.
Para Bertolazzi, a saída da Bends se deu devido à tradição dos seus concorrentes, um mercado muito fechado no caso brasileiro. “A Bends poderia ser um case study para o mercado da música. Mostrou que se você não tem um produto adequado, não importa o quanto gaste em propaganda e marketing. Entrar em um mercado tão pequeno e restrito como o de harmônicas exige muito capital e, principalmente, ‘nome’. Veja que as duas empresas alemãs [a Hohner e a Seydel] têm mais de 150 anos, a Hering foi fundada em 1923 e a Suzuki em 1948. São essas quatro marcas que dominam o mercado mundial”, defende Bertolazzi, e arremata: “Até a Yamaha tentou produzir harmônicas há alguns anos e desistiu. O investimento para o ferramental, devido à diversidade de modelos, é muito grande. Você não pode querer atender o mercado apenas com algumas diatônicas e cromáticas. Além disso, o mercado é pequeno se comparado a outros segmentos de instrumentos musicais.”
Mudança de estratégia
Para fazer frente às concorrentes internacionais, que têm visto no Brasil uma grande oportunidade de crescimento nos negócios, a Hering tem investido na pesquisa e desenvolvimento de produtos premium, de maior valor agregado. Essa é, inclusive, a estratégia da empresa para atuar no mercado internacional.
Com distribuição regular em 30 países, a Hering diminuiu o volume de exportações no último ano, mas, segundo Bertolazzi, aumentou a rentabilidade. “A valorização do real fez com que mudássemos a estratégia de exportação e hoje estamos mais focados nas harmônicas com alto valor agregado. O volume exportado diminuiu, mas aumentou a rentabilidade”, afirma o executivo.
PAPO RÁPIDO
Em entrevista à Música & Mercado, Alberto Bertolazzi falou sobre os boatos de falência da empresa, do segmento de gaitas e da saída da Bends do mercado nacional. Confira.
Qual é a situação da Hering atualmente no mercado de gaitas? O que você pode dizer sobre as irregularidades em relação à entrega de produtos?
A Hering estava instalada, até março de 2010, em um prédio muito charmoso, estilo alemão. A estrutura, porém, não estava mais atendendo à nossa necessidade para melhorar a produtividade e controlar devidamente a qualidade. Daí a decisão de mudar para um prédio mais funcional. Mas algumas previsões não se realizaram, ficamos duas semanas sem internet e telefone. O que era para ser feito em alguns dias levou, na realidade, mais de um mês. Isso mais a enchente de novembro daquele ano — que isolou completamente a cidade de Blumenau — ocasionaram problemas tanto na produção como na distribuição e recebimento de materiais.
Como o encerramento das atividades da Hunter (linha de suportes, outro segmento em que a empresa atuava) impactou nos negócios da Hering?
A venda da linha Hunter foi um bom negócio tanto para nós como para a empresa que comprou. A linha Hunter é composta por uma grande variedade de produtos e se encaixou perfeitamente no portfólio do comprador. Hoje a Hering pode focar seus objetivos na produção de harmônicas que, por ser um produto quase artesanal, exige muita atenção. E também podemos nos dedicar mais a um mercado muito promissor, que é a industrialização de madeiras certificadas para a fabricação de instrumentos musicais.
(fonte:
Música & Mercado - REESTRUTURAÇÂO: Hering, na boca do povo Matéria publicada em Quarta, 4 de Janeiro de 2012 14:19)