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30 de mai. de 2011

Chico Blues, é dono de selo independente que lança bandas brasileiras e exporta '90%' dos álbuns de Blues e de Gaitistas Brasileiros

Chico da Paraíba, do ABC e do Blues

Francisco França é Chico Blues, o dono do selo independente que lança bandas brasileiras e exporta '90%' dos álbuns

SÃO PAULO - Às cinco da manhã, entre as centenas de pessoas que se aglomeravam em frente aos portões da fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo, um paraibano de Carrapateiro foi escolhido para assumir o posto de "ajudante de serviços gerais" dentro do complexo industrial. Com a carteira de trabalho levantada acima da cabeça e sem nunca ter frequentado a escola, Francisco França, nascido em 1953, conseguiu o emprego no início da década de 70, poucos anos após ter chegado ao sudeste do País.

Morador do sertão da Paraíba, onde se "plantava pra comer" e hospital, água tratada ou energia elétrica não havia, Francisco veio para a região metropolitana de São Paulo com 16 anos – sem documento e capaz de escrever apenas o próprio nome e o endereço onde morava, andou até um cartório e conseguiu finalmente uma carteira de identidade (seria 'de Oliveira', mas preferiu tirar do registro "para não ficar muito longo"). O trabalho pesado na lavoura e o algodão que colheu durante a infância – feito B.B. King no Mississippi – eram passado.

O interesse pela música, porém, não mudara em nada: os sons de Waldik Soriano e Luiz Gonzaga que eventualmente ouvia no sertão se transformaram em rock'n roll no ABC paulista. Durante o período em que trabalhou na fábrica de automóveis, Chico França (Chico Rock?) recebia o suficiente para iniciar sua coleção.

"Ele era curioso, comprava tudo", conta Ana Lucia, com quem o colecionador está junto há mais de três décadas.

Os 25 anos na Volkswagen lhe renderam uma aposentadoria e tempo para se dedicar exclusivamente à música: por exercer uma função insalubre, França conseguiu se aposentar e iniciar um projeto já pensado anos antes.

Atento a novos lançamentos internacionais, sobretudo os independentes, Chico acumulou LPs e CDs nos últimos anos em que esteve na fábrica; escrevia cartas para artistas e gravadoras (em inglês, com a ajuda da cunhada) e recebia encomendas diariamente - remetente e destinatário: Chico Blues. Depois de se aprofundar nos caminhos do rock e do jazz, mudou de rumo: estava determinado a abrir uma loja de discos. "Não tinha nem o que pensar, ia me especializar só em blues". Quando enfim chegou o momento, os tempos estavam mudados. Com a queda nas vendas, os riscos de a loja não dar certo eram grandes. "Um pessoal conhecido lá da Galeria do Rock me disse que ia ser difícil. Se vender de tudo era complicado, imagina viver só de blues?!", relembra.


Em casa, a estante com sua coleção de mais de 2 mil discos de rock e blues.

SELO

Mesmo tendo abandonado a ideia, os CDs e LPs continuavam empilhados na casa onde mora, em São Bernardo do Campo. De vez em quando, levava o acervo para feiras e festivais de música – e vendia sempre mais do que imaginava. Foi em um desses eventos que resolveu considerar a sugestão de um cliente, que o questionou porque não abrir uma loja na própria residência, sem custos adicionais e problemas de deslocamento. Gostou da ideia, mas admite que não deu certo.

"O acervo estava todo parado, ocupando espaço. Aí, juntei mais três camaradas e criamos em 2003 o 'Blues Associados'", conta. Depois de pouquíssimos lançamentos, a falta de lucros e perspectivas desmontou a produtora. Chico Blues estava só. Disposto a investir, criou o próprio selo, pediu ao companheiro Yuri Prado (da Prado Blues Band) uma ajuda para criar a identidade visual da Chico Blues Records e, entre 2005 e 2006, lançou a chancela que mantém até hoje.

Além da produção executiva, Chico pensa o projeto do CD, acompanha as gravações e finaliza o processo com os músicos - "a gente faz tudo junto", diz, mesmo sem ter conhecimentos teóricos ou práticos em algum instrumento.

"A Chico Blues é mais uma forma de inserir bons trabalhos no mercado, porque a banda fazer isso sozinha é muito difícil."

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Ouça trechos de algumas músicas lançadas pelo Chico Blues Records:

som Big Chico, em Blowin' Like Hell
som Flávio Guimarães, em If It Ain´t Me
som Prado Blues Band, em Prado's Mood
som Robson Fernandes, em Sampa's Boogie

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MERCADO

"Eu diria que 90% dos meus CDs vão para o exterior." Vendidos sob encomenda (via site ou telefone), os lançamentos do selo são distribuídos, principalmente, nos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e Bélgica. Segundo o produtor, há uma rede de contato com lojistas e distribuidores que pedem determinadas quantias de cada disco, "muito maiores do que aqui no Brasil".

Chico Blues sabe que hoje em dia o mercado de discos e CDs anda em baixa. "Não adianta ficar desesperado pra acabar com a pirataria. É balela. Eu tenho quase 20 lançamentos do Chico Blues Records, mas estão todos na internet. No máximo uma semana depois de lançados, já estão todos por aí. Não é por causa disso que vou parar."

Amigo e produtor de nomes do blues como Flávio Guimarães, Robson Fernandes e "os meninos" da Prado Blues Band, Chico afirma repetidamente que não vive de blues – vive "o blues". E completa: "Eu não ouço música o tempo todo. Se estou fazendo outra coisa, não coloco nada pra tocar. Música pra mim é como assistir a um filme. Quando vou ouvir, quero fazer só isso."

(FONTE: 30 de maio de 2011 | 6h 00 Gabriel Vituri - estadão.com.br)